Reunião pública de 16/10/59 - Questão nº 383
Quando abraçares teu filho, no conforto doméstico, fita essas outras
crianças que jornadeiam sem lar.
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Dispões de alimento abundante para que teu filho se mantenha em linha de
robustez.
Essas outras crianças, porém, caminham desnorteadas, aguardando os
restos da mesa que lhes atiras, com displicência, findo o repasto.
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Escolhes a roupa nobre e limpa de que teu filho se vestirá, conforme a
estação.
Todavia, essas outras crianças tremem de frio, recobertas de andrajos.
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Defendes teu filho contra a intempérie, sob teto acolhedor, sustentando-o
à feição de jóia no escrínio.
Contudo, essas outras crianças cochilam estremunhadas, na via pública,
quando não se distendem no espaço asfixiante do esgoto.
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Abres ao olhar deslumbrado de teu filho os tesouros da escola.
E essas outras crianças suspiram debalde pela luz do alfabeto, acabando,
muita vez, encerradas no cubículo das prisões, à face da ignorância que lhes
cega a existência.
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Conduzes teu filho a exame de pediatras distintos, sempre que entremostre
leve dor de cabeça.
Entretanto, essas outras crianças, minadas por moléstias atrozes,
agonizam em leitos de pedra, sem que mão amiga as socorra.
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Ofereces aos sentidos de teu filho a festa permanente das sugestões
felizes, através da educação incessante.
No entanto, essas outras crianças guardam olhos e ouvidos quase sempre
sintonizados no lodo abismal das trevas.
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Afaga, assim, teu filho no trono familiar, mas desce ao pátio da provação
onde essas outras crianças se agitam em sombra ou desespero e ajuda-as,
quanto possas!
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Quem serve no amor do Cristo sabe que a boa palavra e o gesto de
carinho, o pedaço de pão e a peça de vestuário, o frasco de remédio e a xícara
de leite operam maravilhas.
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Proclamas, a cada passo, que esperas, confiante, o esplendor do futuro,
mas, enquanto essas outras crianças chorarem desamparadas, clamaremos
em vão pelo mundo melhor.