DISCRIMINAÇÃO, PRECONCEITO RACIAL E A ÓTICA ESPÍRITA
dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita,
oferece-lhe também a outra; E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; E, se qualquer te obrigar
a caminhar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes. Ouvistes que foi
dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei
bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;
Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam,
que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais?
Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.”
(Mateus 5:37-48)
Que pensar dos que abusam da superioridade de sua posição social para oprimir o fraco em seu proveito?
Resposta: Esses merecem o anátema; infelizes deles! Serão oprimidos por sua vez
e renascerão numa existência em que sofrerão tudo o que fizeram sofrer.
Por que, neste mundo, os maus exercem geralmente maior influência sobre os bons?
Resposta: Pela fraqueza dos bons. Os maus são intrigantes e audaciosos;
os bons são tímidos. Estes, quando quiserem, assumirão a preponderância.
Irmãs e irmãos espíritas do estado do Rio de Janeiro,
Vivemos dias complexos para a humanidade. Tempos de reflexão constante e, nos últimos dias, fomos convidados a lidar com a grave questão do racismo. A partir de um triste episódio de violência racial, transmitido pelas diversas mídias, surgiu a necessidade de conversar sobre este tema, pois não podemos negar que ainda vivemos em uma sociedade onde identificamos a presença do racismo em diversas instâncias, de forma clara ou velada, que muitas vezes passa despercebido por sua “naturalização”, em uma sociedade que conviveu até bem pouco tempo com a escravidão.
A Doutrina Espírita reconhece o espírito reencarnante como herdeiro de si mesmo. E, por isso, herdeiro das virtudes e dos vícios adquiridos na trajetória do Espírito Imortal, não para negar, mas sim para construir sua base moral e transformar-se em Homem de Bem.
Em setembro de 1858, Allan Kardec, com uma visão de futuro inigualável, escreve sobre a divulgação do Espiritismo e afirma que podemos dividir sua propagação em quatro fases ou períodos distintos. A primeira, que ele denominou de período da curiosidade, foi o momento inicial, os primórdios, a época em que eclodem as manifestações físicas. Depois veio a fase filosófica ou de observação, o período do próprio Kardec, o momento onde se formaram os alicerces, quando se organiza a própria codificação. Fundamentada a Doutrina, vem a terceira fase, o período do reconhecimento oficial do Espiritismo, a fase da admissão. E por fim, chegamos ao momento que agora atravessamos, a fase da influência sobre a sociedade.
E por isso, não podemos nos furtar de refletir sobre a questão do preconceito racial sob a ótica espírita.
Mesmo com toda a evolução que já podemos perceber em nosso planeta, ainda nos surpreendemos com um comportamento egoísta, cheio de orgulho e preconceito, que discrimina as pessoas pela cor de sua pele, por sua posição social, orientação sexual, peso, etnia, enfim, por qualquer característica que as tornem diferentes, como se não fossemos individualidades, todos especiais, sim, diferentes uns dos outros, pois cada espírito é único, não havendo padrão, gabarito a ser seguido, a não ser quando construído pelo egocentrismo, pelo apego a condições materiais.
A Doutrina Espírita tem por base três pilares de fundamentação: Ciência, Filosofia e Religião, e busca compreender o sentido da vida para projetar a construção da vida feliz. A felicidade não individual e egoísta, mas sim a felicidade coletiva e como irmãos em fraternidade, utilizando os ensinamentos religiosos para reforma íntima e moral, tendo Jesus como modelo e guia.
O Espiritismo é obra de educação e a educação do espírito é base fundamental para a vivência espírita-cristã. Educar para libertar o espírito ainda preso a questões do passado como superioridade racial e financeira, falta de compreensão de que somos todos irmãos, filhos do mesmo Pai. Porém se faz necessário reconhecer que os ensinamentos que vêm de Deus, inteligência suprema, que são libertadores, nem sempre são acolhidos por corações fracos e vinculados ao passado de delitos e convenções sociais.
O que devemos fazer, como espíritas, assumindo nossa jornada de Homens de Bem, é acolher a dor, nos posicionar como representantes do Cristo, amando como gostaríamos de ser amados, entendendo que não cabe sentimento de discriminação e violência contra quem quer que seja.
Seja nosso falar sim, sim, não, não. E não necessitamos de rótulos desta ou daquela filiação para dar conta da parte que nos cabe. Kardec no Livro dos Médiuns define quatro tipos de espíritas: experimentadores, imperfeitos, exaltados e os verdadeiros espíritas ou espíritas cristãos. Experimentadores e exaltados não despertaram ainda para o significado da Doutrina, imperfeitos, como nós, talvez busquem outros rótulos, porque ainda não conseguem a vivência moral dos verdadeiros espíritas, mas devemos rumar para esta categoria, onde viveremos a caridade naturalmente e perceberemos que o espírita de verdade nunca será racista.
“Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.”
CEERJ – Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro
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