A Faculdade que os Espíritos tem de penetrar os nossos pensamentos:
Os Espíritos podem ver o que fazemos, pois constantemente nos rodeiam. Cada um, porém, só vê aquilo a que dá atenção. Não se ocupam com o que lhes é indiferente.
Os Espíritos podem conhecer os nossos mais secretos pensamentos. Muitas vezes chegam a conhecer o que desejamos ocultar de nós mesmos.
Assim, é mais fácil ocultar de uma pessoa viva qualquer coisa, do que a esconder dessa mesma pessoa depois de morta.
Quando nos julgamos muito ocultos, é comum termos ao nosso lado uma multidão de Espíritos que nos observam.
Os Espíritos levianos riem das pequenas peças que nos pregam e zombam das nossas impaciências. Os Espíritos sérios se condoem dos nossos reveses e procuram ajudar-nos.
Influência oculta dos Espíritos em nossos pensamentos e atos:
Os Espíritos influem em nossos pensamentos e em nossos atos, mais do que imaginamos, pois com bastante frequência são eles que nos dirigem.
Nossa alma é um Espírito que pensa. Não ignoremos que muitos pensamentos nos acodem a um tempo sobre o mesmo assunto e, não raro, contrários uns dos outros. No conjunto deles estão sempre misturados os nossos com os dos Espíritos que nos cercam. Daí surge a incerteza em que nos vemos.
Podemos distinguir os pensamentos que nos são próprios dos que nos são sugeridos. Quando um pensamento nos é sugerido, temos a impressão de que alguém nos fala. Geralmente, os pensamentos próprios são os que vêm em primeiro lugar. Não nos é de grande interesse estabelecer essa distinção. Muitas vezes, é útil que não saibamos fazê-la. Não fazendo, o homem pode agir com mais liberdade. Se se decide pelo bem, é voluntariamente que o pratica; se toma o mau caminho, maior será a sua responsabilidade.
Os homens inteligentes e de gênio tiram suas ideias, algumas vezes, do seu próprio Espírito, porém, outras vezes, lhes são sugeridas por Espíritos que os julgam capazes de compreendê-las e dignos de transmiti-las. Quando tais homens não as acham em si mesmos, apelam para a inspiração. Fazem assim, sem o suspeitarem, uma verdadeira evocação.
Podemos distinguir se um pensamento sugerido procede de um Espírito bom ou de um Espírito mau. Devemos estudar o caso. Os Espíritos bons só para o bem nos aconselham.
Os Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal para que soframos como eles sofrem.
Isso não lhes diminui os sofrimentos, mas fazem-no por inveja, por não poderem suportar que hajam seres felizes.
Os Espíritos imperfeitos são instrumentos próprios a pôr em prova a fé e a constância dos homens na prática do bem. Como Espírito que somos, temos que progredir na ciência do infinito. Por isso passamos pelas provas do mal, para chegarmos ao bem. A missão dos bons Espíritos consiste em nos colocar no bom caminho. Desde que sobre nós atuem influências más, é que as atraimos, desejando o mal; porquanto os Espíritos inferiores correm a nos auxiliar no mal, logo que desejemos praticá-lo. Só quando queremos o mal eles podem ajudar-nos para a prática do mal. Mas outros também nos cercam, esforçando-se por nos influenciarem para o bem, o que restabelece o equilíbrio da balança e nos deixa senhor dos nossos atos.
É assim que Deus confia à nossa consciência a escolha do caminho que devemos seguir e a liberdade de ceder a uma ou outra das influências contrárias que se exercem sobre nós.
Podemos neutralizar a influência dos maus Espíritos praticando o bem e pondo em Deus toda a nossa confiança. Assim, repeliremos a influência dos Espíritos inferiores e aniquilaremos o império que desejam ter sobre nós. Guardemo-nos de atender às sugestões dos Espíritos que nos suscitam maus pensamentos, que sopram a discórdia entre nós e que nos insuflam as paixões más. Desconfiemos especialmente dos que nos exaltam o orgulho, pois que esses nos assaltam pelo lado fraco. Essa a razão por que Jesus, na oração dominical, nos ensinou a dizer: “Senhor! Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.”
A nenhum Espírito é dada a missão de praticar o mal. Aquele que o faz age por conta própria, sujeitando-se, portanto, às consequências. Pode Deus permitir-lhe que assim proceda, para nos experimentar; nunca, porém, lhe determina tal procedimento. Compete-nos, pois, repeli-lo.
Quando experimentamos uma sensação de angústia, de ansiedade indefinível, ou de íntima satisfação, sem que lhe conheçamos a causa, é quase sempre efeito das comunicações em que inconscientemente entramos com os Espíritos, ou da que com eles tivemos durante o sono.
Os Espíritos que procuram atrair-nos para o mal aproveitam as circunstâncias ocorrentes, mas também costumam criá-las, impelindo-nos, sem que disso nos demos conta.. Assim, por exemplo, encontra um homem, no seu caminho, certa quantia. Não pensemos que tenham sido os Espíritos que a trouxeram para ali. Mas eles podem inspirar ao homem a ideia de tomar aquela direção e sugerir-lhe depois a de se apoderar da importância achada, enquanto outros lhe sugerem a de restituir o dinheiro ao seu legítimo dono. O mesmo se dá com relação a todas as demais tentações.
Referências:
O Livro dos Espíritos - Segunda parte - Capítulo IX - Allan Kardec