O Espírito encarnado perde a lembrança do seu passado, pois o homem não pode e nem deve tudo saber. Sem o véu que lhe cobre certas coisas, ficaria deslumbrado. Pelo esquecimento do passado, ele é mais ele mesmo.
A lembrança de nossas individualidades anteriores teria inconvenientes muito graves. Poderia até nos humilhar ou exaltar o nosso orgulho, e por isso, entravar o nosso livre-arbítrio. Deus nos dá o que é necessário, que é a voz da nossa consciência e nos priva do que poderia nos prejudicar.
A cada nova existência, o homem tem mais inteligência e pode melhor distinguir o bem e o mal. Quando o Espírito volta à vida espírita, toda sua vida passada de desenrola diante dele. Ele vê as faltas que cometeu e que são a causa do seu sofrimento, e o que poderia impedir de as cometer. Compreende que a posição que lhe é dada é justa e procura, então, a existência que poderá reparar aquela que vem de se escoar. Procura provas análogas àquelas pelas quais passou, ou lutas que crê adequadas ao seu adiantamento, pedindo aos Espíritos que lhe são superiores para ajudá-lo, pois sabe que o Espírito que terá como por guia nessa nova existência procurará fazê-lo reparar suas faltas, dando-lhe uma espécie de intuição das que cometeu. Essa intuição é o pensamento, o desejo criminoso que nos vem, frequentemente, e ao qual, resistimos instintivamente. É a voz da consciência que nos fala e essa voz é a lembrança do passado que nos adverte para não recairmos nas faltas que já cometemos. Se suportamos essas provas com coragem, e se resistimos, nos elevamos e ascendemos na hierarquia dos Espíritos, quando voltamos entre eles.
Um ponto importante é, que, podemos cometer faltas que não cometemos nas vidas anteriores, se não sabemos resistir. Mas essas faltas acusam mais um estágio estacionário que um estado retrógrado, porque o Espírito pode avançar ou parar, mas não recua.
Quando chega o tempo marcado pela Providência para a nova vida, o próprio Espírito escolhe as provas às quais quer se submeter para acelerar o seu progresso, ou seja, o gênero de existência que ele crê mais apropriado para lhe fornecer os meios, e essas provas estão sempre em relação com as faltas que deve expiar.
O Espírito tem o seu livre-arbítrio e é assim que escolhe as provas da vida corporal e que, no estado de encarnado, decide se as cumpre ou não.
O homem pode saber de que gênero de faltas se tornou culpado e qual seu caráter dominante, bastando para isso, estudar-se e observando suas tendências e provas que suporta. Assim, alguém será castigado no seu orgulho pela humilhação de uma existência subalterna; o mau rico e o avaro, pela miséria; o que foi duro para com os outros, pela dureza que suportará; o tirano, pela escravidão; o mau filho pela ingratidão dos seus filhos; o preguiçoso, por um trabalho forçado, etc.
As existências futuras dependerão da maneira que se cumpra a existência presente.
Nos mundos superiores as lembranças das existências infelizes afloram à memória, mas não são mais do que um sonho mau.
Referência:
O Livro dos Espíritos – Livro II – Cap. VII - Allan Kardec.